"Falar com 'Deus' é oração (?!); já ouvi-lo responder... é esquizofrenia."

segunda-feira, 23 de julho de 2012

Destino Manifesto (soneto)*

Handall Fabrício Martins
*alusivo à Primeira Igreja Presbiteriana de Vitória (IPU)

Irrelevância sua sina não fora,
indeléveis lhes seriam patentes
marcas deixadas, corações e mentes:
apologia - sim! -, aqui e agora!

Metido em seus imbróglios, entrementes,
foi a dominar, sim, e sem demora.
Mas, pés de barro tinha e, agora, chora
agonia de morte entre os viventes.

Levanta-te, ó da vida baluarte!
As forças não te vêm dos altos céus?
Revigora teu mote e o estandarte!

Possível reaver os que eram teus?
Ou fracassaste aqui e, assim, destarte,
multiplicas na terra os teus ateus?

quinta-feira, 19 de julho de 2012

Dilemas na madrugada (soneto)*


Handall Fabrício Martins



*elucubrações de um final de plantão









 

Dentro em si pulsa a eternidade finda; 
Fora de si seu efêmero jaz. 
Além de si diferença não faz 
aquilo que há por descobrir ainda. 

De apontar caminhos é incapaz. 
Mas sabe - não há uma segunda vinda; 
e sabe (sua cabeça na berlinda): 
contrários e díspares, guerra e paz. 

Impossível livrar-se de uma lenda? 
Mesmo depois de tudo que se fez, 
permanecerá sempre essa contenda? 

Não pode mais lidar com tantos quês: 
inviável mais uma reprimenda. 
(...) Ouçam seu lamento, todos vocês!





segunda-feira, 2 de julho de 2012

Por que sou contra o Ensino Religioso nas escolas (2)

Outro texto provocante do Prof. Dr. Osvaldo Luiz Ribeiro, disponível em:
http://peroratio.blogspot.com.br/2012/07/2012530-voce-nao-aprendeu-foi-e-nada.html




Ele não aprendeu foi é nada!



1. Já escrevi sobre isso. Mas isso não sai de mim, da minha pele. Tenho que exorcizar esse demônio, e, então, escrevo de novo. Teologia e seu currículo...

2. Nos melhores currículos, mesmo nos mais dogmáticos, controladores e confessionais currículos, estão lá, uma, outra, ou todas: Antropologia, Sociologia, História, Psicologia - em pelo menos um, porque "eu" a coloquei lá, quando era Coordenador do Curso e estávamos montado o currículo MEC, Fenomenologia da Religião.

3. Mas não vou tão longe: ler Fenomenologia da Religião é covardia.

4. Mas se o teólogo estudou Antropologia, Sociologia e Psicologia, não precisava mais nada. Nunca mais - anotem: nunca mais (se ele de fato estudou essas disciplinas) -, ele faria teologia como antes, até mesmo ele pensaria como antes.

5. Com Antropologia, ele aprende que toda religião é igual, é fenômeno histórico e situado, desenvolvido na história e geograficamente localizado - fenômeno humano, por homens inventado.

6. Com Sociologia, ele aprende que a religião é um "fato social", e que molda e é moldada pelas pessoas, por suas idas e vindas na vida, pelas questões de família, de trabalho, de guerra, de amor, de vida e de morte. Fenômeno humano, por homens inventada.


7. Com Psicologia, ele aprende que a religião desenvolve-se na psiquê, na relação entre a consciência, a vontade, o desejo, o medo, e os mitos, os ritos, os homens sagrados. Fenômeno humano, por homens inventada.

8. Se estudasse Fenomenologia da Religião, então, saberia até os processos mediante os quais a religião e os deuses são criados pelos homens...

9. Mas ele leu apenas as três Maiores - e não precisa nada mais. Com elas, já seria suficiente para esvaziar de Deus e dos Deuses a sua teologia inteira, esvaziar de Deus a sua própria mente, seu discurso - para ele reconhecer que sempre que pensa, fala e ouve sobre Deus, é coisa de cultura, de sociedade e de mentes humanas.

10. Mas que nada! Ele lê, estuda, é aprovado, mas não aprende é coisa nenhuma. As respostas que deu na prova, mentiu-as, porque não as levou a sério jamais (talvez à noite, no travesseiro, naquele instante que ele se olha a si mesmo, nu na alma, e se chora a covardia?)...

11. Não, não aprendeu, não, porque só se aprende o que se torna você - e, se ele aprendesse Antropologia, Sociologia e Psicologia, elas se tornariam seu sangue e corpo, seu cabelo e unha - mas nada, são apenas nomes ocos, vazios, que ele até usa para os outros, para reduzir a religião dos outros a fenômenos humanos - ou do diabo! Mas a sua, a sua religião, não: ele a mantém longe delas, da Antropologia, da Sociologia e da Psicologia - ela, a religião dele, é Deus...

Teologia de avestruz

por Osvaldo Luiz Ribeiro*




1. Enfiar a cabeça no buraco e fingir que se resolveu tudo.

2. Mas o nome disso é sonegação de informação, manipulação e desonestidade.

3. Inventaram que, para ser pastor, precisa de curso de Teologia. Não se quer aprender nada, de fato. Se quer, apenas, legitimar uma "vocação". No fundo, os seminários pensam-se como centros de treinamentos pastorais, para reprodução das doutrinas da denominação.

4. Não se pode condenar essa perspectiva. Ela não está errada. Mas ela precisa ser mais honesta. Ela não pode dizer que ali se ensina Bíblia - é falsa a declaração. Ali se ensina a tradição denominacional, e nada mais do que isso. O problema é que cada denominação diz que ensina a Bíblia, de modo que, em seus centros de formação, essa retórica política se repete: aqui, nesse centro de formação, se ensina - e lá vem a dissonância: Evangelho e Bíblia. Não. Ali se ensinam as doutrinas e as regras da denominação, usando a Bíblia para isso.

5. Aí, vamos para a sala de aula.

6. Sala de aula é um negócio incontrolável. Pode ser o centro mais fascista que você imaginar, mais cedo ou mais tarde, alguma coisa em sala de aula é dita sem conformidade com o padrão.

7. Teologia e Bíblia então: imagina... Não há uma aula sem que alguma coisa fora dos eixos não seja dita, e isso em ambientes de máximo controle dogmático.

8. Imagina você o que não ocorre em ambientes mais arejados - e os há.

9. Bem, ainda que o ambiente seja arejado, o sujeito é um "vocacionado". Ele ouve e faz as contas - é a Teologia do ábaco, até aí. Ele pensa assim: se eu falar isso lá, vai todo mundo embora. E já anota que, aquilo, jamais dirá. Dia a dia ele vai ouvindo um monte de coisas que, na prática, desmonta outro monte de coisas que ele, vocacionado, juraria, diante de Deus, serem verdades - e eram mera tradição. No final do curso, ele já decidiu tudo que sonegará às pessoas que "pastoreará".

10. E sonegará.

11. Ele aprendeu certas coisas, mas não contará nada. Enfiará a cabeça no buraco e fingirá que o mundo é como ele diz que é - e isso dito desde o púlpito, pronto!...

12. Eu acho que isso acontece, porque ele, o vocacionado, agora pastor, olha nos olhos de Deus. Se ele olhasse nos olhos das pessoas, não teria coragem de mentir para elas. Mas, em nome de Deus, por Deus, e para Deus, a gente faz qualquer coisa. 

13. Já matamos!...

14. Sonegar informação é troco...

15. O problema é que as fogueiras eram acesas com as informações que começavam a circular...

*Osvaldo Luiz Ribeiro é doutor em teologia e professor da Faculdade Unida de Vitória/ES.
texto disponível:

Por que sou contra o Ensino Religioso nas escolas

Compartilho um texto bastante pertinente do Prof. Dr. Osvaldo Luiz Ribeiro, disponível em:


Se ele não aprendeu, como vai ensinar?

1. Sabe aquele aluno (religioso e, não poucas vezes, pastor) que não aprendeu absolutamente nada sobre Ciências Humanas, porque o que ele aprendeu de Antropologia, Sociologia e Psicologia, no curso de Teologia, ele vomitou dez minutos antes da formatura - como é que ele vai assumir uma classe de ENSINO RELIGIOSO, cuja "filosofia" é justamente as Ciências Humanas, vedado todo proselitismo e confessionalismo?

2. Ele vai mentir?

3. Mentir para si e para a criança?

4. Ele vai fazer de conta que o que ele diz todos os dias sobre as outras religiões é mentira, e que elas são todas iguais?

5. Ele vai esquecer que diz todos os dias que Candomblé, Umbanda, Espiritismo, Islamismo (tá na moda, em "missões") e qualquer outra religião são todas coisas do diabo?

6. Ele vai esquecer isso e mentir - para si e para as crianças?

7. Ou vai mentir para a sua função e seu dever e catequizar - que é a única coisa que ele sabe fazer?

8. Uma aluna me disse: professor, pior é quando a Coordenadora é crente...

9. O problema não é apenas a sala de aula - não é apenas o professor que se servirá do sistema para "pregar o Evangelho": a estrutura inteira da Escola, se estiver na mão de crente (e de católicos?), vai se tornar em Cruzada de Jesus.

10. Alguém duvida?

11. Esse aqui, não.

12. E tenham certeza, senhores, que todos os alunos que passarem pela minha classe, na pós-graduação de Ensino Religioso, vão ouvir isso e - acreditem - um bocado mais.

13. Podem me chamar de manipulador e liberal.

14. Melhor do que manipular crianças - sempre elas, em estado de vulnerabilidade: quando não lhes metem a mão nas intimidades, lhes metem a mão na alma...