"Falar com 'Deus' é oração (?!); já ouvi-lo responder... é esquizofrenia."

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

Sobre uma resposta ao facebook


O facebook me pergunta no que estou pensando e resolvo responder.

É o seguinte: sofrimento e dor são coisas muito particulares e subjetivas. São categorias não passíveis de medição nem de comparação. Ou seja, não dá pra dizer que "fulano sofreu mais que beltrano". Ou "o sofrimento de cicrano é tanto e mesmo assim ele não desiste". Gente, a maneira como cada um experiencia a dor e o sofrimento - a alegria e a felicidade também - e a intensidade com que cada pessoa individual experimenta essas sensações são aspectos tão subjetivos, tão individuais, tão íntimos, tão particulares, tão incomparáveis que me sinto até redundante escrevendo isso. Quando se fala de problema, então, aí é que a coisa fica evidente e mais crítica também. "Fulaninho não tem problema nenhum, tem tudo pra ser feliz e fica aí, amuado". De novo: gente, uma dificuldade que pra um alguém pode ser insignificante, algo que esse alguém vença "com os pés nas costas", como dizem, pode ser algo intransponível para um outro alguém. Vamos, então, de uma vez por todas, parar de ficar comparando os problemas dos outros e, assim, julgando todo mundo, ok? Vamos também parar com essa história de que o nosso problema é sempre pior do que o dos outros. Quando vemos alguém com uma doença terminal, por exemplo, ou que perdeu toda a família numa tragédia, temos a sensação de que nem temos problema. Mas depois a ficha cai de novo e nos deparamos com as NOSSAS questões, que são diferentes das dos outros porque são NOSSAS. Vamos parar de autocomiseração, autopiedade, autovitimização, parar com esse negócio de achar que o universo todo conspira contra a gente, que somos vítimas da vida. Vamos parar de fazer papel de coitadinhos, e vamos assumir as NOSSAS dores e os NOSSOS problemas, que não são maiores nem menores do que os dos outros, são apenas NOSSOS, e seguir a vida, um passo de cada vez. Sem julgar ninguém, pois só conseguimos medir os outros com a nossa medida, e a NOSSA medida só serve pra NÓS MESMOS. Vamos, também, parar de fazer pouco caso dos dramas dos outros, pois não dá pra medir o outro por nós. Cada um tem suas peculiaridades, suas idiossincrasias, fruto da biografia de cada um, bem como da carga genética que recebeu. Enfim, pessoal, vamos ser mais compreensivos, mais sensíveis, mais empáticos, mais solidários, mais altruístas, MAIS HUMANOS! É disso que nossa sociedade precisa, de pessoas assim! Então, você topa o desafio? Vem comigo? Então, VAMOS!

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

Tempestade interior (soneto)

Handall Fabrício Martins

Possesso de demônios amiúde, 
há tempos, de sofrer, minh'alma clama;
excesso de neurônios é o que pude,
de alentos de viver, ter nesse drama.

De tanto chorar, pranto fez-se açude;
compasso retilíneo, a dor me chama.
Mas, quanto pesar à esperança ilude...
Excesso de fascínio, o corpo inflama.

(...)

Contra toda corrente, insiste, rema;
ao sabor das ondas, desiste - coma.
(...) Novo estigma se levanta: emblema!

(...)

'Inda mais doente, resiste, toma
a decisão de curar seu edema...
... mas, impossível (?). Terrível redoma!


segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

Depois de quase um ano...

Quase náufragos (soneto)
Handall Fabrício Martins
(com minha amiga Karyna Bernabé)

Desde seus gritos, gemidos e ais,
depararam, no fragor de suas vagas;
longe de terra, de porto e de cais,
à deriva, nas suas rotas amargas.

Feridos tanto, por várias adagas,
viveram, apesar de males tais;
resistiram, 'inda que imensas chagas
mostrassem seu sofrimento loquaz.

Sobreviventes, perseguem a cura,
porque quem só espera nada alcança:
mesmo propósito, alento se augura.

(...)

Vento se acalma, maré já é mansa;
chegam, juntos, à conclusão mais pura: 
à tempestade sucede a bonança.