"Falar com 'Deus' é oração (?!); já ouvi-lo responder... é esquizofrenia."

sexta-feira, 28 de maio de 2010

terça-feira, 25 de maio de 2010

(G)estação

Handall Fabrício Martins

Sorrateiramente, ele vem chegando,
e mostra a que veio - não foi à toa;
pelo ar, mal se faz sentido, quando
uma nota do conjunto destoa.

Sem mais, da orquestra o maioral comando,
ainda em prelúdio, faz-se uma loa:
tentativa díspar de tornar brando
o indício de execução não tão boa.

Mesmo assim, o concerto continua;
segue em frente o exercício sempiterno,
ao fulgor do sol ou à luz da lua.

Frente a mais isso, meu espanto externo
a respeito desta terra e de sua
estação ambígua chamada inverno...


quinta-feira, 20 de maio de 2010

A profecia na atualidade III: A esperança cristã de uma nova criação e as crenças atuais no "fim do mundo" ***



Handall Fabrício Martins



“[...] Eis que faço novas todas as coisas [...]” (Apocalipse 21.5).

“E, assim, se alguém está em Cristo, é nova criatura; as coisas antigas já passaram; eis que se fizeram novas” (2 Coríntios 5.17).

Segundo Stam, biblicamente, o “fim do mundo” é que dá início à nova criação. Todavia, tem-se entendido erroneamente esse “fim”, de maneira quantitativa, quando a correta compreensão é qualitativa. Os profetas bíblicos, por exemplo – exceção feita às passagens estritamente apocalípticas (que também influenciaram algumas narrativas neotestamentárias sobre o fim) –, se referem com esperança ao fim do presente estado de coisas: não haverá mais tristeza, apenas alegria; não haverá mais morte; cada um poderá usufruir o que construiu, e não outros; não haverá mais violência e destruição; a justiça reinará. Também segundo Stam, não se pode falar nem de salvação nem de ressurreição sem nova criação. Esta (“já” = presente) foi iniciada em Cristo, no poder do Espírito; todavia (“ainda não” = futuro), precisa ser tornada plena (por isso, vivemos “entre os tempos”). Como Cristo, também nós – os que nele morremos e ressuscitamos – somos primícias de uma nova criação.

“Tal esperança, longe de fomentar uma passividade narcotizada diante da história, chama-nos a uma vida comprometida de santidade e justiça [...] e de evangelização [...]. [...] [2 Pedro 3.1-13] chama os crentes a não somente se santificarem (3.11), mas a ‘apressarem a vinda do dia de Deus’ (3.12). [...] Nós, praticando agora a justiça da nova criação, podemos empurrar adiante a história e ‘acelerar o calendário de Deus’ [...]” (p.92).

“Um pessimismo histórico, dos que só podem cantar ‘todas as coisas permanecem como desde o princípio da criação’ porque nada pode mudar (2 Pe 3.4), está muito longe e se opõe à esperança cristã. Também é um pessimismo apocalíptico, cuja única esperança é o céu (‘a ilha de meus sonhos’), porque para esta terra e para a história humana não se pode esperar absolutamente nada. A mensagem dessa passagem [2 Pedro 3.1-13] é que, além do juízo divino, há uma nova ordem de coisas, permeada de justiça, e que, enquanto esperamos, podemos e devemos fazer todo o possível para que se manifeste o reino de Deus aqui e agora. A esperança escatológica não cancela a esperança histórica, mas a fecunda. A esperança histórica inspira uma vida de santidade aqui e a prática de justiça agora, até que venha o Senhor” (p.92).

“[...] Nós trasladamo-nos, muitas vezes, para o céu, mas o pensamento judeu contempla as realizações finais, mormente na terra. Uma minoria de passagens coloca essas realizações no céu” (p.96). “[...] No final do livro de Apocalipse, a salvação dos fiéis não termina com ‘ir ao céu’, mas com viver plenamente na nova criação. De fato, em Ap 21-22, nada ‘sobe’ [...], mas as coisas descem [...]” (pp. 96-97). “[...] Toda a visão do Apocalipse termina com plenitude de vida numa nova terra, muito parecida à nossa, porém sem defeito algum. Isto descarta toda dicotomia de ‘céu’ (transcendental, espiritual) e terra (a presente e a futura). A partir de Platão, uma atitude ‘verticalista’ infiltrou-se em grande parte do cristianismo, onde tudo o que é bom está em cima e tudo o que está embaixo é mau [...]” (p.100).

“[...] Ap 21-22 também supera magistralmente todo dualismo da pessoa e da comunidade, do indivíduo e da sociedade. Até supera a falsa dicotomia de eternidade e tempo, pois o ‘fim’ não parece introduzir-nos na eternidade atemporal do céu, mas no início de um novo tipo de ‘tempo’ existencial perfeito [...]. Da mesma forma, o ensinamento da nova criação supera todo dualismo de esperança escatológica e responsabilidade histórica. Longe de chamar-nos a um escapismo que evita a ação histórica, chama-nos a viver agora a prática da nova criação e assim apressar sua vinda” (pp. 100-101).

“[...] Quantas vezes a pregação ‘profética’ (como de 2 Pe 3) tem sido ameaçadora, aterradora, para assustar as pessoas! Este tipo de ‘espantologia evangelística’ é realmente um terrorismo escatológico e não tem nada a ver com a grande esperança para a qual Deus nos chama. Não deve ser o medo do inferno, muito menos da grande tribulação, nem mesmo o simples desejo de alcançar o céu que convençam outros acerca do Evangelho. Também não podemos desesperar-nos com este mundo se cremos nas promessas de Deus. Tudo isso é essencialmente uma contradição da esperança evangélica” (pp. 101-102).


***texto baseado no livro de Juan Stam "Profecia Bíblica e Missão da Igreja", editado pela Sinodal. As páginas citadas são do mesmo livro.


sábado, 8 de maio de 2010

soneto de conversão

Handall Fabrício Martins


Aquilo que me mostraste reiteras:
promessas que fizeste - vivo pelas,
palavras que disseste - todas veras.
As mãos vazias? Quiseste-me enchê-las.

Vivia noutros ares, noutras eras,
e meu céu não tinha sequer estrelas...
Hoje, vivo por ti: vivo deveras,
encontrando nisso as coisas mais belas.

O peso que havia em minhas ilhargas
em fardo leve, agora, modificas;
tiraste-me de veredas amargas...

(...) Seguindo vou, atento às tuas dicas,
porque por elas a vida me alargas,
concedes a mim as bênçãos mais ricas!