"Falar com 'Deus' é oração (?!); já ouvi-lo responder... é esquizofrenia."

segunda-feira, 28 de maio de 2012

Oremos pelas vocacões!


Quando a crise (teológica) vem

Osvaldo Luiz Ribeiro*


1. O que fazer, quando a crise teológica se instala?

2. Com meus 25 anos de jornada teológica acadêmica (19 dos quais como professor), acho que tenho alguma experiência. Não vou dar receita de bolo, mas apresentar algumas sinalizações.

3. Primeiro: quando a crise teológica se instala, curta-a. Ela vai passar. Tudo na vida passa, e a crise passará. Por isso, curta a crise. Pense a respeito dela, memorize os dramas que ela provoca, procure guardar na memória os sentimentos que ela suscita. De preferência, escreva. Não meça palavras, escreva. Vomite tudo no papel. E guarde. Um dia, você se verá quando em pleno parto...

4. Segundo: quando a crise teológica se instala, não a supervalorize. A crise não é nem o objetivo nem o fim da Teologia. É uma etapa. Importante. Necessária, eu diria. Mas não é um fim em si mesma. Assim, não faça dela o que ela não é. Não a subestime nem a superestime. Olhe para ela e deixe ela saber que você sabe que ela está ali - mas faça com que ela saiba que você está no controle. A crise se dá na Teologia. Mas a crise não é a Teologia...

5. Terceiro: quando a crise teológica se instala, é porque alguma coisa em você já se preparara para ela. Alguns espíritos não a experimentam, seja porque são refratários à crítica, seja porque têm outra forma de viver a religião e o mundo. Mas os espíritos que sofrem a crise teológica sofrem-na porque já a tinham sob a forma de ovo dentro de si. Foi o momento, a circunstância que fez eclodir o ovo. Assim, reconheça a crise como parte de você: ao contrário de um organismo parasita, um ser estranho, a crise é sua outra metade, desabrochando.

6. Quarto: quando a crise teológica se instala, faça como Maria: guarde as coisas em seu coração. Não as jogue fora. Não as engula com a boca. Guarde-as no coração. Espere, pacientemente, para ver aonde as coisas vão dar. Observe o caminho.

7. Quinto: quando a crise teológica se instala, aprofunde-a. Não, não a deixe sobre a mesa - encare-a de frente, olho no olho. Se a crise suspeita de que há algo atrás do muro, dê a volta e olhe lá atrás, ou suba no muro e olhe do outro lado. Não fuja da crise, enfrente. Crise é suspeita - transforme a suspeita em pesquisa, em estudo. Crise é mina: cave. Crise é asa: voe. Crise é mar: navegue. Crise é vida: envelheça.

8. Sexto: quando a crise teológica se instala, aproveite para analisar sua visão de mundo. Há crises que não passam de chiliques de seminarista. Mas há crises cosmogônicas - essas são as verdadeiras: a gente entra um dentro delas, nosso mundo é uma coisa, quando as experimentamos, mas quando saímos, somos outra pessoa, nosso mundo foi destruído e recriado - por nós mesmos. A criação foi uma crise, se o posso dizer.

9. Sétimo: quando a crise teológica se instala, fique feliz. Seu dinheiro foi bem empregado. Olhe seus mestres e sorria: fizeram seu trabalho. Olhe para o letreiro, onde se escreve o nome de sua Faculdade, e sinta orgulho. Há lugares de ensino teológico onde se castram pessoas, coíbem-se crises, demonizam-nas, onde reproduzem dogmas e doutrinas de mil anos na cabeça oca de um povo assustado. Ali, pensar é pecado, saber, danação. Ali é lugar onde a crise é o ovo do diabo. Na sua Faculdade, não: crise é parto, crise é nascimento, crise é libertação.

10. Quando alguém se dirigisse ao balcão de atendimento de um curso de Teologia, deveria perguntar assim: ei, moça, quanto custa a crise? Tanto. E você pagaria. À vista ou à prestação. E, sentado na escada que leva ao segundo andar, se esperaria pela passagem da primeira crise.

11. A fila é enorme.

12. E não dói?

13. Dói. Mas logo adormece e fica apenas uma sensação dorida e gostosa, uma nostalgia do dia que ainda não chegou.


*Osvaldo Luiz Ribeiro é doutor em teologia pela PUC-Rio e professor da Faculdade Unida de Vitória.

texto disponível em:

quinta-feira, 24 de maio de 2012

Miedo (Lenine), por Lenine e Julieta Venegas

"No amor não existe medo; antes, o perfeito amor lança fora o medo. Ora, o medo produz tormento; logo, aquele que teme não é aperfeiçoado no amor" 
(I João 4.18, ARA).

Primeiro, o vídeo. Logo abaixo, a letra. Espero que gostem.



Tienen miedo del amor y no saber amar
Tienen miedo de la sombra y miedo de la luz
Tienen miedo de pedir y miedo de callar
Miedo que da miedo del miedo que da
Tienen miedo de subir y miedo de bajar
Tienen miedo de la noche y miedo del azul
Tienen miedo de escupir y miedo de aguantar
Miedo que da miedo del miedo que da
El miedo es una sombra que el temor no esquiva
El miedo es una trampa que atrapó al amor
El miedo es la palanca que apagó la vida
El miedo es una grieta que agrandó el dolor
Tenho medo de gente e de solidão
Tenho medo da vida e medo de morrer
Tenho medo de ficar e medo de escapulir
Medo que dá medo do medo que dá
Tenho medo de acender e medo de apagar
Tenho medo de esperar e medo de partir
Tenho medo de correr e medo de cair
Medo que dá medo do medo que dá
O medo é uma linha que separa o mundo
O medo é uma casa aonde ninguém vai
O medo é como um laço que se aperta em nós
O medo é uma força que não me deixa andar
Tienen miedo de reir y miedo de llorar
Tienen miedo de encontrarse y miedo de no ser
Tienen miedo de decir y miedo de escuchar
Miedo que da miedo del miedo que da
Tenho medo de parar e medo de avançar
Tenho medo de amarrar e medo de quebrar
Tenho medo de exigir e medo de deixar
Medo que dá medo do medo que dá
O medo é uma sombra que o temor não desvia
O medo é uma armadilha que pegou o amor
O medo é uma chave, que apagou a vida
O medo é uma brecha que fez crescer a dor
El miedo es una raya que separa el mundo
El miedo es una casa donde nadie va
El miedo es como un lazo que se apierta en nudo
El miedo es una fuerza que me impide andar
Medo de olhar no fundo
Medo de dobrar a esquina
Medo de ficar no escuro
De passar em branco, de cruzar a linha
Medo de se achar sozinho
De perder a rédea, a pose e o prumo
Medo de pedir arrego, medo de vagar sem rumo
Medo estampado na cara ou escondido no porão
O medo circulando nas veias
Ou em rota de colisão
O medo é do Deus ou do demo
É ordem ou é confusão
O medo é medonho, o medo domina
O medo é a medida da indecisão
Medo de fechar a cara
Medo de encarar
Medo de calar a boca
Medo de escutar
Medo de passar a perna
Medo de cair
Medo de fazer de conta
Medo de dormir
Medo de se arrepender
Medo de deixar por fazer
Medo de se amargurar pelo que não se fez
Medo de perder a vez
Medo de fugir da raia na hora H
Medo de morrer na praia depois de beber o mar
Medo... que dá medo do medo que dá
Medo... que dá medo do medo que dá


terça-feira, 22 de maio de 2012

À vida submisso (soneto)

Handall Fabrício Martins



Estava eu sem direção, vagando,
vazios coração e pensamento;
quase inerte permanecia, quando,
de repente, algo deixou-me atento.

Tentei não transigir, mas, ao meu mando,
não obedeceu-me o rebelde intento
- 'té hoje não retomei-lhe o comando -
e eis a pena que, agora, experimento:

Alegria que se revela em pranto (?!),
modo que nem eu mesmo compreendo.
Por ela sofro mais, e um outro tanto...

Mas, mesmo assim, persevero, e enquanto
à minha vida não se faz o adendo,
só por ela, ainda, sempre, me encanto...

sábado, 19 de maio de 2012

A propósito dos 124 anos da abolição da escravatura (13 de maio de 1888) (parte 2)


Organismo lembra evangélicos que negros continuam fora das esferas decisórias


15/05/2012

A Aliança de Negras e Negros Evangélicos do Brasil (ANNEB) encaminhou pedido a lideranças de igrejas do protestantismo histórico, pentecostal e neopentecostal para que pregadores dessas denominações apresentem no domingo, 13, homilia baseada nas negras e negros da Bíblia ou em passagens que mostram que Jesus não era preconceituoso e racista.
“Historicamente, as igrejas evangélicas no Brasil sempre se omitiram em relação às questões racial, social e de gênero, e desconhecem os anos de luta da negritude pelo reconhecimento de sua identidade no contexto do segmento evangélico”, lembrou a presidenta da ANNEB, pastora e professos Waldicéia de Moraes Teixeira da Silva.
O organismo entende que é preciso alertar as lideranças evangélicas sobre “a persistência de um sistema que ainda mantém o negro e a negra longe das esferas de decisão, reproduzindo, com frequência, nas estruturas das igrejas, a discriminação, o preconceito e o racismo ao qual afirmam se opor”.
Ontem, foi lembrado no Brasil o Dia Nacional de Denúncia contra a Discriminação, o Preconceito e o Racismo. Pesquia Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), de 2005, demonstra que das 27 unidades da Federação em 21 a população negra é majoritária. Somente em seis Estados – Mato Grosso do Sul, Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul – o negro é minoritário.
A presidente da ANNEB arrola que negros e negras constituem 73% da população mais pobre do país e apresentam os piores índices de empregabilidade, os menores salário, a mais baixa formação educacional e são maioria nas favelas, cortiços e presídios. 
Fundada em 2003, a ANNEB tem por objetivo elaborar e implementar em todas as esferas do segmento evangélico do Brasil o debate da questão racial e da negritude, com ações afirmativas teológicas sob a ótica da população negra, assegurar o pleno exercício de sua cidadania e promover a justiça e a igualdade social.

A propósito dos 124 anos da abolição da escravatura (13 de maio de 1888)

Abolição da escravatura e as igrejas evangélicas
Por Hernani Francisco da Silva








Os primeiros protestantes chegaram ao Brasil ainda no período da escravidão. Era um grupo composto principalmente por defensores da escravidão, omissos, e poucos abolicionistas. No Geral os protestantes não tiveram um papel relevante na abolição da escravatura. Conhecer esse passado da Igreja Protestante no Brasil pode nos ajudar a entender a relação da Igreja Evangélica Brasileira com o negro: sua cumplicidade na escravidão, sua omissão no passado e no presente diante do racismo, e seu silêncio no púlpito com a temática negra.
Vejamos cinco casos da questão racial no Brasil, de repercussão nacional, que as igrejas evangélicas foram e são omissas:
Centenário da abolição da escravatura 

Em 1988, ano em que se comemorava o centenário da abolição da escravidão no Brasil, as igrejas evangélicas perderam uma grande oportunidade rumo a remissão dos 100 anos de omissão com relação ao povo negro. Os movimentos negros naquela ocasião buscavam uma oportunidade à reflexão, não era um momento festivo. A Igreja Católica lançava a campanha da fraternidade: "Ouvi o clamor deste Povo", com a temática Negra. Enquanto as igrejas evangélicas repetiram o que fez 100 anos antes na "abolição da escravatura", mais uma vez omissa, ficando de fora, perdendo o seu testemunho cristão e o bonde da história.

Questões dos quilombolas 

O quilombo constitui questão relevante desde os primeiros focos de resistência dos africanos ao escravismo colonial, e retorna à cena política durante a redemocratização do país. Trata-se, portanto, de uma questão importante na luta dos afrodescendentes. Nos últimos vinte anos os descendentes de africanos organizados em Associações Quilombolas, em todo o território nacional, reivindicam o direito à permanência e ao reconhecimento legal de posse das terras ocupadas e cultivadas para moradia e sustento, bem como o livre exercício de suas práticas, crenças e valores considerados em sua especificidade.

Com exceção da Igreja Anglicana, que em uma carta — Igreja Anglicana em defesa dos Quilombolas — em abril de 2009, assinada pelo seu bispo primaz, dirigida ao Supremo Tribunal Federal (STF), contra a Ação de Inconstitucionalidade apresentada pelo DEM (ex-PFL), as demais igrejas continuam totalmente omissas com relação à questão dos quilombolas.
Questão da intolerância religiosa 

Outra questão preocupante é a intolerância religiosa, sobretudo em relação aos seguidores de religiões de matriz africana. Um dos casos de maior repercussão foi o que vitimou a yalorixá Gildásia dos Santos, a Mãe Gilda. Sua morte gerou indignação de lideranças de diversas religiões, processo na justiça e, como forma de reconhecimento, a instituição do dia 21 de janeiro como Dia Municipal de Luta contra a Intolerância Religiosa — que depois ganhou também um reconhecimento nacional.

Sabemos que a intolerância religiosa pode resultar em perseguição religiosa e ambas têm sido comuns através da história. A maioria dos grupos religiosos já passou por tal situação numa época ou noutra. Os próprios evangélicos eram chamados de bodes ou nova seita. Bíblias eram confiscadas e queimadas na praça das cidades. Muitos tiveram suas casas incendiadas criminosamente, seus bens extraviados, suas vidas vilipendiadas. Essas mesmas igrejas hoje, omissas e até mesmo intolerantes, não podem esquecer que as Igrejas Evangélicas já foram perseguidas pelo ímpeto da intolerância.
A maldição do povo negro e africano 

Dizem que a maldição de Cam está sendo simplesmente cumprida à medida que os negros vivem para servir a outras raças, particularmente aos brancos. George Samuel Antoine, Cônsul do Haiti no Brasil, numa entrevista veiculada pelo SBT, apontou como possível causa do terremoto certa maldição que pesa sobre o povo africano. Ao fazer tão infeliz comentário, o Cônsul não sabia que ainda estava sendo filmado. Na mesma direção o tele-evangelista estadunidense Pat Robertson explica as "desgraças" haitianas como sendo consequência de "pactos" ocorridos há duzentos anos entre os haitianos e o demônio. Também o pastor e deputado federal Marco Feliciano diz no Twitter que "africanos descendem de ancestral amaldiçoado". O parlamentar, que é pastor e empresário, afirmou que: "Sobre o continente africano repousa a maldição do paganismo, ocultismo, misérias, doenças oriundas de lá: ebola, Aids, fome...".

Entretanto, a questão que fica é: de onde vem essa ideia de maldição dos negros? Essas ideias vieram dos missionários, sulistas racistas, que tinham a escravidão como instituída por Deus, para justificar a escravidão, baseando-se em argumentos teológicos de que o povo negro era da descendência de Cam, filho de Noé, amaldiçoado para serem escravos dos escravos. O mais triste de tudo isso é que nenhuma denominação protestante ou liderança evangélica se manifestou diante dessas declarações. Mais uma vez as igrejas são omissas reforçando uma doutrina diabólica aceita por muitos crentes dentro dos seus templos.
A questão das cotas 

A decisão do Supremo sobre cotas marca um momento histórico. A mais alta corte de Justiça do país admitiu não só que existem brasileiros tratados como cidadãos de segunda classe, mas que eles têm direito a um tratamento especial para vencer sua desigualdade. As ações afirmativas ou sistema de cotas é certamente o assunto mais polêmico quando se trata do ingresso no ensino superior no Brasil. O STF julgou a constitucionalidade das cotas aplicadas na Universidade de Brasília desde 2004: 20% das vagas para "negros e pardos". O partido Democrata (DEM) tinha acusado a medida de ser anticonstitucional.

Outra vez as igrejas evangélicas ficam de fora de mais uma grande questão do povo negro, omissa e silenciosa. Agindo como na parábola do bom samaritano narrada por Jesus nos evangelhos: passando de largo diante das questões dos negros e negras.
As organizações ecumênicas Cese e Koinonia têm realizado diversas ações referentes às questões dos quilombolas e à intolerância religiosa, mas não falam pelas igrejas evangélicas, são vozes proféticas solidárias e solitárias que são criticadas por essas igrejas por suas ações na questão racial.

Oremos/rezemos e lutemos pela cura do câncer!

quinta-feira, 17 de maio de 2012

Democracia não é a ditadura da maioria! (2)

Dia Mundial contra Homofobia: 40% dos países membros da ONU criminalizam relações homoafetivas

por Adital


No Chile, no último 27 de março um jovem de 24 anos, brutalmente espancado, não resistiu e morreu. Morreu porque era homossexual. Daniel Zamudio entrou para a lista de casos de crimes de ódio e intolerância que imperam em pleno Século XXI. Hoje (17), Dia Internacional de Luta contra Homofobia, manifestações por direitos humanos se realizam em vários países do mundo pedindo respeito à orientação sexual, direito à cidadania e justiça para casos como esses.
Todas essas manifestações fazem um contraponto a dados alarmantes que representam sérios retrocessos no trato dos direitos humanos de homens e mulheres, independente de suas orientações sexuais.
O relatório lançado ontem pela Associação Internacional Lésbica, Gay, Bissexual, Trans e Intersex (ILGA, por suas siglas em inglês) indica que 40% dos países membros da Organização das Nações Unidas criminalizam atos sexuais entre pessoas do mesmo sexo. Mais: 78 países de 193 ainda possuem leis punitivas para pessoas que mantenham relações homoafetivas. Assim, por exemplo, é ilegal ser gay no Irã, na Argélia, Bangladesh (com pena de prisão perpétua), Arábia Saudita, entre outros.
Este relatório, lançado em Genebra, se concentra no levantamento de leis que criminalizam a atividade sexual com consentimento entre pessoas do mesmo sexo. "Lamentavelmente, esta sexta edição de nosso relatório anual sobre a homofobia de Estado contempla um aumento do número total de países no mundo cuja legislação persegue as pessoas em função de sua orientação sexual – agora são 78 contra os 76 do ano passado”, afirma o documento da Ilga.
Entre alguns avanços, o Brasil é citado por conta da homologação que reconhece a união entre pessoas do mesmo sexo, como pessoas possíveis de constituir famílias. No entanto salienta que o país ainda não tem uma legislação que puna devidamente casos de homofobia e dedique maiores proteção a esta população.
"Todavia, as políticas públicas em defesa e em favor das pessoas LGBT não são suficientes nem eficazes na redução da violência homofóbica, que inclui assassinatos de gays e lésbicas, violência moral e os preconceitos no trabalho e nos meios de comunicação. O Brasil não conta com nenhuma instituição pública nem um projeto específico contra as ocorrências de crimes por homofobia e violência, seja física ou simbólica”, assinala o relatório.
Na América Latina, diz o documento, apesar de os países serem signatários de vários tratados e convenções que protegem os direitos humanos no que diz respeito à orientação sexual e identidade de gênero, às condições de igualdade e liberdade cidadã, ainda não há um compromisso real e prático dos Estados em oferecer mecanismos que ponham fim à violência à população LGBT.
Nesta parte o levantamento do Ilga relata a morte do jovem chileno Daniel Zamudio e de 11 lésbicas na região da América Latina e Caribe que eram reconhecidas ativistas pelos direitos humanos. "É uma violência que não é coerente com a vontade expressada pelos governos que representam os estados assinantes [dos tratados e convenções]”, complementa.
Em Honduras, de setembro de 2008 a fevereiro deste ano, foram 71 mortes registradas de pessoas LGBT, segundo relatou à Ilga a Rede Lésbica Cattrachas. O Caribe também representa uma preocupação, já que 11 países dessa região ainda perseguem e castigam com prisão pessoas com orientações diversas que não sejam heterossexuais.
De todo modo, o relatório elogia as iniciativas da sociedade civil organizada que lutam cotidianamente pelos cumprimentos dos direitos LGBT, salientando que através delas é que é possível conseguir mudanças significativas neste cenário, neste mundo onde as pessoas precisam ser respeitadas pelo que são.
O relatório completo em:

disponível em:



sexta-feira, 11 de maio de 2012

Democracia não é a ditadura da maioria!

Handall Fabrício Martins


Gostaria de compartilhar com vocês a minha surpresa e indignação ao deparar-me hoje com uma certa campanha veiculada na internet por meio das redes sociais facebook e twitter. 
Imaginem vocês que há pessoas articulando a realização de um plebiscito virtual, com o intuito de pleitear alteração do texto constitucional, a fim de definir o Brasil como país oficialmente cristão. Querem retroceder à situação que tínhamos no Brasil Império, haja vista que a primeira constituição republicana do Brasil (1891) já previa a laicidade do Estado. Ora, pessoal, é pra frente que se anda!
Essa turma precisa de uma aula de cidadania, sobretudo pra entender o que significa, de fato, DEMOCRACIA: Democracia não é a ditadura da maioria. Muito ao contrário, os direitos das minorias é que precisam ser assegurados e, se necessário for, por força de lei. 
Esse fundamentalismozinho nojento, travestido de religiosidade, de tradição e de protetor dos bons costumes me deixa verdadeiramente contrariado. 
Só falta que na proposta dessa esdrúxula emenda constitucional conste que quem não for cristão não seja considerado brasileiro. Ora, se querem que a nação seja declarada oficialmente uma nação cristã, quem não for cristão não será - pelo menos não plenamente - brasileiro. 
Ainda bem - pelo menos nesse caso específico - que no Brasil lei não é garantia de direito.
Mas é claro que essa babaquice não vai dar em nada. Deus existe, e é Pai!

Vejam o link da campanha na web: http://www.revolucaocrista.com.br/

segunda-feira, 7 de maio de 2012

Corrupção: crime contra a sociedade

Leonardo Boff*

Segundo a Transparência Internacional, o Brasil comparece como um dos países mais corruptos do mundo. Sobre 91 analisados, ocupa o 69.º lugar. Aqui ela é histórica, foi naturalizada, vale dizer, considerada com um dado natural, é atacada só posteriormente quando já ocorreu e tiver atingido  muitos milhões de reais e goza de ampla impunidade.
Os dados são estarrecedores: segundo a Fiesp (Federação das Indústrias de São Paulo) anualmente ela representa 84,5 bilhões de reais. Se esse montante fosse aplicado na saúde subiriam em 89% o número de leitos nos hospitais; se na educação, poder-se-iam abrir 16 milhões de novas vagas nas escolas; se na construção civil,  poder-se-iam construir 1,5 milhões de casas.
Só estes dados denunciam a gravidade do crime contra a sociedade que a corrupção representa. Se vivessem na China muitos corruptos acabariam na forca por crime contra a economia popular. Todos os dias, mais e mais fatos são denunciados como agora com o contraventor Carlinhos Cachoeira que para garantir seus negócios infiltrou-se corrompendo gente do mundo político, policial e até governamental. Mas não adianta rir nem chorar. Importa compreender este perverso processo criminoso.
Comecemos com a palavra corrupção. Ela tem origem na teologia. Antes de se falar em pecado original,  expressão que não consta na Bíblia mas foi criada por Santo Agostinho no ano 416 numa troca de cartas com São Jerônimo, a tradição cristã dizia que o ser humano vive numa situação de corrupção. Santo Agostinho explica a etimologia: corrupção é ter um coração (cor)  rompido (ruptus) e pervertido. Cita o Gênesis: “a tendência do coração é desviante desde a mais tenra  idade” (8,21). O filósofo Kant fazia a mesma constatação ao dizer: “somos um lenho torto do qual não se podem tirar tábuas retas”. Em outras palavras: há uma força em nós que nos incita ao desvio que é a corrupção. Ela não é fatal. Pode ser controlada e superada, senão segue sua tendência.
Como se explica a corrupção no Brasil? Identifico três razões básicas entre outras: a histórica, a política e a cultural.
A histórica: somos herdeiros de uma perversa herança colonial e escravocrata que marcou nossos hábitos. A colonização e a escravatura são instituições objetivamente violentas e injustas. Então as pessoas para sobreviverem e guardarem a mínima liberdade eram levadas a corromper. Quer dizer: subornar, conseguir favores mediante trocas, peculato (favorecimento ilícito com dinheiro público) ou nepotismo. Essa prática deu origem ao jeitinho brasileiro, uma forma de navegação dentro de uma sociedade desigual e injusta e à "lei de Gerson", que é tirar vantagem pessoal de tudo.
A política: a base da corrupção política reside no patrimonialismo, na indigente democracia e no capitalismo sem regras. No patrimonialismo não se distingue a esfera pública da privada. As elites trataram a coisa pública como se fosse  sua e organizaram o Estado com estruturas e leis que servissem a seus  interesses sem pensar no bem comum. Há um neopatrimonialismo na atual política que dá vantagens (concessões, médios de comunicação) a apaniguados políticos.
Devemos dizer que o capitalismo aqui e no mundo é em sua lógica, corrupto, embora aceito socialmente. Ele simplesmente impõe a dominação do capital sobre o trabalho, criando riqueza com a exploração do trabalhador e com a devastação da natureza. Gera desigualdades sociais que, eticamente, são injustiças, o que origina permanentes conflitos  de classe. Por isso, o capitalismo é por natureza antidemocrático, pois  a democracia supõe uma igualdade básica dos cidadãos e direitos garantidos, aqui violados pela cultura capitalista. Se tomarmos tais valores como critérios, devemos dizer que nossa democracia é anêmica, beirando a farsa. Querendo ser representativa, na verdade, representa os interesses das elites dominantes e não os gerais da nação. Isso significa que não temos um Estado de direito consolidado e muito menos um Estado de bem-estar social. Esta situação configura uma corrupção  já estruturada e faz com que ações corruptas campeiem livre e impunemente.
A cultural: A cultura dita regras socialmente reconhecidas. Roberto Pompeu de Toledo escreveu em 1994 na Revista Veja: “Hoje sabemos que a corrupção faz parte de nosso sistema de poder tanto quanto o arroz e o feijão de nossas refeições”. Os corruptos são vistos como espertos e não como criminosos que de fato são. Via de regra podemos dizer:  quanto mais desigual e injusto é um Estado e ainda por cima centralizado e burocratizado como o nosso, mais se cria um caldo cultural que permite e tolera a corrupção.
Especialmente nos portadores de poder se manifesta a tendência à corrupção. Bem dizia o católico  Lord Acton (1843-1902): "o poder  tem a tendência a se corromper e o absoluto poder corrompe absolutamente”. E acrescentava: "meu dogma é a geral maldade dos homens portadores de autoridade; são os que mais se corrompem”.
Por que isso? Hobbes  no seu Leviatã (1651)  nos acena para uma resposta plausível: “assinalo, como tendência geral de todos os homens, um perpétuo e irrequieto desejo de poder e de mais poder que cessa apenas com a morte; a razão disso reside no fato de que não se pode garantir o poder senão buscando ainda mais poder”.
Lamentavelmente foi o que ocorreu com o PT. Levantou a bandeira da ética e das transformações sociais. Mas ao invés de se apoiar no poder da sociedade civil e dos movimentos e criar uma nova hegemonia, preferiu o caminho curto das alianças e dos acordos com o corrupto poder dominante. Garantiu a governabilidade  a preço de mercantilizar as relações políticas e abandonar a bandeira da ética. Um sonho de gerações foi frustrado. Oxalá  possa ainda ser resgatado.
Como combater a corrupção? Tarefa ingente e difícil:  pela transparência total, por uma democracia ativa e participativa pela qual os cidadãos se acostumam a vigiar a aplicação dos dinheiros públicos, por uma justiça isenta e não corruptível,  pelo aumento dos auditores confiáveis que atacam antecipadamente a corrupção. Como nos informa o World Economic Forum, a Dinamarca e a Holanda possuem 100 auditores por 100.000 habitantes; o Brasil apenas, 12.800 quando precisaríamos pelo menos de 160.000. Mas, mais que tudo  lutar por um outro tipo de democracia menos desigual e injusta que, a persistir como está,  será sempre corrupta, corruptível  e corruptora.

*teólogo, filósofo e escritor, autor de A violência na sociedade capitalista e do mercado, em A Voz do Arco-íris, Rio de Janeiro 2004.

disponível em: