"Falar com 'Deus' é oração (?!); já ouvi-lo responder... é esquizofrenia."

terça-feira, 20 de abril de 2010

A profecia na atualidade

Handall Fabrício Martins

Paul Tillich foi muito feliz ao formular o “princípio protestante”. O acento principal do “princípio” é seu caráter profético. Ou seja, a Igreja, seus mestres, suas instituições e autoridades, suas confissões e expressões de fé encontram-se sob o juízo profético. Tudo na Igreja deve estar sob o signo da cruz, pois ela representa o juízo divino que a si mesmo tudo submete. Ora, ao que me parece, o “princípio protestante” de Tillich pode ser vinculado diretamente a um princípio da Reforma Protestante: “Ecclesia reformata et semper reformanda est” (“A igreja reformada está sempre se reformando”). Assim, creio que, da mesma forma que os profetas bíblicos se preocuparam não somente com o culto israelita, mas, também, com outras instituições, como o Estado e a sociedade em geral, é possível estender o alcance do “princípio protestante” tillichiano a toda a realidade social.
Percebo que um problema que tem afetado de forma significativa o tema em tela é a confusão que se estabeleceu entre “profecia” ou “palavra profética” e “vidência” ou “previsão do futuro”. Muitos dos cristãos protestantes entendem profecia bíblica como algo que se refere única e exclusivamente ao porvir. Ao lerem os textos proféticos, ficam procurando descobrir o que “já se cumpriu” e o que “ainda não se cumpriu” na história de Israel e na universal, tendo por base os textos dos profetas.
Quanto à profecia ou palavra profética hoje, não são poucos os que entendem que existam “profetas” (pessoas que têm o “dom da profecia”), especializadas em proferir oráculos de alcance, quase que invariavelmente, individuais. Chega-se a dizer: “vou à ‘casa do profeta’, ouvir ‘o que Deus tem a dizer’”. Ou se transforma a Bíblia numa espécie de “bola de cristal”, que tem como função mostrar o futuro e o que se deve ou não fazer em cada situação particular. Nem se concebe a profecia como crítica, como juízo, ou como algo que acontece como conseqüência de se quebrar a aliança com Deus. Nesse sentido, a atualização dos textos proféticos praticamente inexiste.
Se os profetas bíblicos não podiam, de regra, além da denúncia em si, tomar qualquer atitude concreta (exceto algumas ações simbólicas), hoje, quem tem a oportunidade de, além da crítica, fazer algo concreto no sentido de mudar a situação objeto da denúncia e não o faz é, no mínimo, demagogo. Talvez seja hipócrita. No caso da Igreja, tem-se visto muita indiferença.
Mas penso que Deus não se serve apenas da Igreja ou de seus membros individuais para mostrar a sua vontade e aquilo que o desagrada. Aliás, a Igreja, ao longo da história e desde muito cedo, esqueceu-se de sua função profética e tem muito mais legitimado do que denunciado os desmandos feitos no intuito de se manterem privilégios políticos e econômicos – inclusive os que ela própria, Igreja, adquiriu e desejava manter.
Assim, partindo do pressuposto de que a profecia continua sendo aquilo que, principalmente, sempre foi – ou seja, denúncia – o papel da palavra profética hoje é, como no caso dos profetas bíblicos, essencialmente, o de apontar as mazelas da sociedade. Porém, não apenas a denúncia pela denúncia, mas uma crítica seguida de ações politicamente engajadas, isto é, de forma participativa e concreta.
Creio que o movimento ecumênico e o diálogo inter-religioso, neste respeito, ocupam papel fundamental: o de mostrar que a palavra da Igreja (e não de parte dela) é, sim, relevante, pois, se balizada pelas Escrituras, é a palavra do próprio Cristo.

Um comentário:

  1. Na verdade é dificil entender qual o papel que a igreja tem exercido na atualidade, se bem que, outrora, este papel também era mal utilizado, devido ao mal entendimento do que é profecia. A profecia na atualidade é um dom meramente individual onde as pessoas usam de forma exacerbada, como que se a profecia viesse do próprio que a transmite. Com isso, tiram o fundamento da profecia que é uma ação direta do Eterno para com a humanidade, é uma forma de Elohim corrigir, alertar e de se relacionar com seu seu povo, independente da placa denominacional que muitos ostentam. Sendo assim, não vejo a igreja como um agente missionário e nem evangelizador como muitos dizem em suas pregações, e enchem o peito para falar que a igreja assumiu este papel para si, pois, cumpre com orgulho o ide de jesus. Se o que eles semeiam é o ide de jesus não sei mais o que é Evangelho Verdadeiro.

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