"Falar com 'Deus' é oração (?!); já ouvi-lo responder... é esquizofrenia."

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Será que existe uma visão religiosa a partir do olhar feminino e outra a partir do olhar masculino?

(Handall Fabrício Martins)

A historiografia oficial é a versão dos “vencedores” e, a partir da ótica destes, determina a religião “verdadeira”. Além de passar pelo crivo dos “vencedores”, essa religiosidade também é condicionada pelo sexismo. Ou seja, o referencial cúltico é, de regra, o masculino, ao passo que a religiosidade das mulheres sempre foi relegada à margem.
A religiosidade feminina sempre foi expressão do clamor contra a opressão. Não só a opressão impingida pelo homem sobre a mulher, mas também aquela sofrida pelos espoliados, marginalizados pela sociedade, fracos, pobres e doentes. O instinto maternal da mulher e as marcas de seu sofrimento milenar sempre a levaram a acolher e a promover a solidariedade entre mulheres e homens, escravos e livres, brancos e negros, patrícios e estrangeiros.
O homem, o masculino, sempre conseguiu fazer da religião uma ideologia (e desta uma "teologia"), uma estratégia de dominação; ao passo que a mulher, até pela situação de opressão que sempre vivenciou, procurou viver e praticar a religiosidade como a busca de alimento para a alma, alento em meio ao sofrimento; não de forma individualista, alienada, mas lembrando dos demais à sua volta que também sofriam.
As classes dominantes na sociedade ocidental – compostas de homens, livres e brancos – sempre projetaram para o "além" a hierarquia que construíram por aqui, no "aquém". Já as classes oprimidas, espoliadas e marginalizadas – mulheres, escravos, negros, índios, estrangeiros, enfermos, deficientes físicos –, desde sempre, construíram utopias, concebidas a partir dos ideais de justiça, de igualdade e de liberdade.
Ora, em meio a tanto sofrimento, quem não sonha, quem não cria e canta as utopias que gesta, perde o chão e o sentido, é tragado pelo abismo da anomia, da desesperança e da falta de perspectiva. E nesse respeito, o Evangelho é altamente subversivo e libertador. Ele representa a certeza de que Deus fará justiça aos pequeninos que a ele clamam, de dia e de noite.


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