"Falar com 'Deus' é oração (?!); já ouvi-lo responder... é esquizofrenia."

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Por UMA ciência das religiões? (parte 1)

 Handall Fabrício Martins

“[...] A religião é a origem e o fundamento das categorias da razão” (DURKHEIM, apud ALVES, 1984, p.26).
“[...] ‘Há algo de eterno na religião que está destinado a sobreviver a todos os símbolos particulares com que o pensamento religioso sucessivamente se envolveu’” (DURKHEIM, apud ALVES, 1984, p.58).

Introdução
Até o final da Idade Média e início da modernidade, a totalidade da realidade era pensada partindo-se da objetividade do mundo. Com a chamada “revolução copernicana” no pensamento, ocorreu um retorno à mediação do conhecimento da realidade pela subjetividade, apoiado na razão e na experimentação científica. O primeiro impulso para essa nova concepção de mundo e do ser humano foi proporcionado pela política, através do enfraquecimento do poder papal e o surgimento dos estados nacionais. Entrementes, acontecimentos religiosos também influíram nas mudanças que estavam ocorrendo.
No medievo, a esfera religiosa era rigidamente enquadrada num sistema hierárquico de acesso a Deus, cuja credibilidade começou a vacilar, ensejando o surgimento de uma crítica à maneira como se estabelecia a relação com Deus, a qual era dificultada por uma estrutura complicada de mediações, muitas vezes grosseiras, além da corrupção do clero.
Como consequência, essa virada antropocêntrica também mudou radicalmente a problemática sobre Deus, o qual deixou de ser “hipótese primeira” e passou a ser mais um objeto a ser mediado pelo sujeito pensante. Nessa perspectiva, podemos enumerar três atitudes unilaterais com relação ao fenômeno religioso: a) negação total da religião (por exemplo, em Feuerbach, Nietzsche, Freud e Marx); b) aceitação total da religião (Bergson, Blondel, Maritain); e c) descrição empírica e análise das diversas concepções e instituições religiosas (como em Weber, Durkheim, Lévy-Bruhl e Lévi-Strauss). Neste artigo, em vista de seus objetivos, ater-nos-emos ao primeiro grupo.
Apesar de tantas vicissitudes, como veremos a seguir, ainda vale a pena estudar o fenômeno religioso, pois ele sempre de novo está aí, para quem quiser ver. Mas, até que ponto é viável e relevante advogar uma ciência das religiões? Seria ela algo parecido como uma “religiologia”? Ou seria ainda muito mais producente continuar se valendo da perspectiva multifacetada e interdisciplinar de que ora dispomos, as ciências da religião?
Os questionamentos e desafios inerentes ao tema são enormes, é verdade. Mas toda elaboração, seja puramente racional, seja científica, carece de uma dose de ousadia, de inventividade. Portanto, ora nos lançamos ao tema proposto, sabendo do risco que há de se levantarem ainda mais questões do que de se resolverem as acima apresentadas.

(continua)

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